sexta-feira, 24 de setembro de 2010

E por falar no Rio Cabeça







SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA AUXILIANDO NO LEVANTAMENTO E MAPEAMENTO DE ELEMENTOS EPIFÍTICOS VASCULARES ÀS MARGENS DO RIO DA CABEÇA ENTRE AS CIDADES DE RIO CLARO E IPEÚNA – SP.


09/2008


Zampin, Ivan Carlos;
Doutorando Pós-Graduação em Geografia Unesp, Rio Claro-SP   iczcomp@yahoo.com.br

Lombardo, Magda Adelaide;
Professora Titular Doutora do Departamento de Planejamento – DEPLAN – Unesp – RC. lombardo@rc.unesp.br


RESUMO

Os rios que formam a Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí, estão gradativamente degradados pela retirada da vegetação ciliar, pela atuação das mineradoras, pelo lançamento de esgotos e assoreados devido ao mau uso dos solos pelas atividades agropastoris. Com ênfase este trabalho visa registrar informações sobre as vegetações ciliares que ainda existem e acompanham o Rio da Cabeça, na divisa entre as cidades de Rio Claro e Ipeúna – SP, onde se buscam dados sobre a flora vascular epifítica que está locada nesse espaço geográfico, ou seja, na extensão desse Rio em seu alto, médio e baixo curso, com estudos, atividades de localização, identificação e levantamento de dados georeferenciados, descrevendo os tipos de plantas inseridas na vegetação ciliar, identificando sua fixação, ou seja, no solo, assim uma planta humífita ou em forófitos seus hospedeiros e ainda é importante citar que em dias atuais há grande quantidade de vegetação alóctone dispersa entre às espécies naturais de Cerrado e de Mata Atlântica às margens desse rio, considerando principalmente a extensão entre as pontes da SP. 191 e a Estrada Municipal que liga Rio Claro a Ipeúna.  

Palavras-chave: Orquídeas, Bromélias, Vegetação Ciliar e Bacia Hidrográfica.


ABSTRACT

The rivers that form the Rio Corumbataí River Basin are gradually degraded by the retreat of the ciliary vegetation by the action of the mining companies, by the launching of sanded sewers due to the bad use of ground by the agriculture activities. With emphasis this work is going to record information about the ciliary vegetations that still exist and accompany Rio da Cabeça in the border between the cities of Rio Claro and Ipeúna – SP; where facts about the epiphytic vascular flora are sought and situated in this geographical space, or be, in the stretch of that River, in its high, medium and short course, with studies, activities of location, geo-referenced data-collecting identification describing the kinds of plants inserted in the ciliary vegetation, identifying its fixation, or be, in its soil, thus a humifita plant or in phorophytes its hosts and still it is important to cite that in present days there are a great quantity of alóctone vegetation scatters between the natural species of Cerrado and of Mata Atlântica Forest by the margins of this river, considering mainly the stretch between the bridges of the SP 191 and the municipal road that links Rio Claro city to Ipeúna town. 
Keywords: Orchids, Bromeliaceae, Ciliary Vegetation and Hydrographical Basin.


INTRODUÇÃO

No espaço geográfico compreendido pela bacia hidrográfica do Rio da Cabeça, pode ser observado grande dinâmica ou evolução degradante da paisagem natural em função de extremas e negativas ações antrópicas. Portanto, nesse final de século XX e início do XXI, a evolução da monocultura da cana-de-açúcar e abertura de pastagens para os rebanhos de gado leiteiro e de corte, fizeram com que os agropecuaristas investissem de maneira predatória sobre muitas reservas de vegetação ciliar que acompanham o Rio da Cabeça e assim pouca estrutura vegetal contínua ou corredores gênicos sobraram, existindo trechos do rio em que esse produto agrícola invadiu os limites demarcados pelas leis florestais, chegando até as margens ou as barrancas do Rio. Dentro desse contexto é que esse trabalho de pesquisa visa avaliar a existência da flora vascular epifítica na extensão dessa vegetação ainda existente, de maneira que os dados georeferenciados são de vital importância para mostrar o quanto é preciso pensar em reparos ou maneiras de se ajudar esse meio ambiente degradado a se regenerar.
              A pesquisa aqui apresentada fornece subsídios para a avaliação das potencialidades da estrutura da vegetação arbórea e florística na extensão do Rio da Cabeça, definindo a forma e que tipos de vegetação de Cerrado, de Mata Atlântica e elementos alóctones estão convivendo no mesmo espaço geográfico, assim os trabalhos são realizados considerando os principais aspectos ambientais que refletem direta ou indiretamente na quantidade e qualidade deste material biológico vegetal nelas existentes, em se tratando de plantas fanerogâmicas, ou seja, que possuem flores. Portanto, é realizando análise amostral para identificação de espécies originárias desse espaço geográfico, que se caracteriza, então, um inventário inédito do potencial epifítico que está contido nessa vegetação ciliar remanescente e nesse contexto é possível evidenciar a tese de que essas plantas estão distintamente relacionadas com seu habitat natural, ou seja, precisam dessas condições elementares para a própria sobrevivência. Segundo Troppmair (2008) a definição de epifitismo se concentra na questão de que no reino vegetal, existem plantas que

[...] usam outras apenas como suporte, sem prejudicá-las. Muitas espécies vegetais heliófitas, que não teriam condições de sobrevivência no sub-bosque escuro, a procura de luz, apóiam-se sobre troncos e galhos da copa de indivíduos de grande porte. É o caso das orquídeas e das bromeliáceas. (TROPPMAIR, 2008, p.73).    

              Nesse contexto, também é possível analisar a interferência dos fenômenos abióticos, tais como o clima (precipitação, temperatura e umidade do ar), na vegetação e a influência da altitude na existência desta unidade vegetal, onde Troppmair (Troppmair, 1972 apud Troppmair, 2008, p.41), faz uma descrição sobre o meio abiótico e dos seres vivos envolvidos, assim:

A existência e a distribuição dos seres vivos depende de fatores físicos e químicos que, inter-relacionados, dão as características do ambiente físico. Entre os fatores abióticos o clima tem importância fundamental, não somente em macro escala, responsável pelas faixas ou zonas de vegetação no globo como também em meso e micro escala quando, associado aos fatores edáficos, formam os mosaicos da vegetação. O clima que é “a sucessão habitual do tempo em determinado local” resulta da conjugação da insolação, temperatura, umidade, vento, precipitação, evaporação, teor de CO2, os quais interagem de forma dinâmica e produzem variações contínuas nos estados de tempo que podem ser analisados em diferentes intervalos: diários, mensais, sazonais e anuais, (Sorre, 1950), influindo diretamente sobre os processos biológicos dos seres vivos como brotação, floração, frutificação, migração e nidificação, etc. A este fenômeno se dá o nome de fenologia. (TROPPMAIR, 1972 apud TROPPMAIR, 2008, p.41)            

              Em análise, finalmente considerando a influência antrópica muito forte às margens deste Rio é que o desenvolvimento deste trabalho se torna de interesse geral, pois o levantamento abrange a situação das orquidáceas e bromeliáceas, com relação a dados científicos de sua fitossociologia, os aspectos taxonômicos e a distribuição geográfica por espécies na vegetação nessa Floresta Ciliar, indicando possibilidades para a conservação dos seus ecossistemas.
           
MATERIAIS E MÉTODOS
 Área de estudos
              A bacia hidrográfica do Rio da Cabeça possui uma série de semelhanças com a do Rio Passa-Cinco, considerando o aspecto físico de seu relevo e a vizinhança entre ambos, onde o “da cabeça” por sua vez, também tem sua nascente no alto da serra próximo à cidade de Itirapina e em sua trajetória traz consigo as matas ciliares que estão também degradadas, principalmente em trecho este, localizado desde a Serra de Itirapina, passando pelo distrito de Itapé e pelo no Horto Florestal de Camaquã, assim evidenciando que, as pastagens, o cultivo da cana-de-açúcar e as plantações de pomares de laranja em várzeas, que começam a surgir, usam o solo até o limite da barranca desse rio. (ZAMPIN et al, 2007, p.,230 - 232)
Em outro trecho correspondente, após a passagem do Rio pelo Horto Florestal de Camaquã, a situação das matas ciliares melhora, mas ainda têm o confronto direto de limites ou divisas com o plantio de cana-de-açúcar e pastagens para o gado, em figuras abaixo é possível observar que ainda existe exuberância em alguns trechos do Rio da Cabeça e que é em sua extensão um bom acolhedor de vegetação arbórea e da flora vascular epifítica. (ZAMPIN et al, 2007, p.,230 - 232)

METODOS

              Além das visitas para levantamento e georeferenciamento usando um aparelho GPS, um item de importância impar nesse contexto é a criação de um banco de dados com informações geográficas e ecológicas, com características voltadas para esse levantamento, assim, oferecendo resultados da interpretação de técnicas apresentadas pelos SIG’s que conseqüentemente tornará mais eficaz a análise dos recursos naturais existentes no espaço geográfico em estudo, contribuindo para uma precisão absoluta nesses resultados de avaliação e da qualidade ou saúde ambiental da Floresta Ciliar, estabelecendo dessa forma a importância do uso de geotecnologias desenvolvidas para monitorar o meio ambiente e definir a aplicação dos recursos para a conservação ambiental.

O RIO DA CABEÇA E SUAS MATAS CILIARES

Em visitas de campo, ou seja, à vegetação que acompanha o Rio da Cabeça, ficou constatado que o mesmo possuiu e ainda possui grande quantidade de vegetação em suas margens, mas que estão recebendo extrema pressão do cultivo da monocultura da cana-de-açúcar e outras, onde em alguns trechos os cultivadores não obedecem as leis do código florestal relativas às distâncias que devem ser deixadas para a continuidade e formação de vegetação ciliar. (ZAMPIN et al, 2007, p.230 - 232).
Com relação a essa vegetação pode-se notar que quanto mais próximo de sua desembocadura no Rio Passa-Cinco, no baixo curso, mais a vegetação ciliar fica ralhada, possuindo locais que a margem está totalmente descoberta, apresentando como conseqüência a inexistência da flora epifítica.
RESULTADOS ALCANÇADOS

Com os trabalhos de campo realizados diretamente na vegetação ciliar, ficou constatada a existência de algumas espécies da flora vascular epifítica que se tornam tradicionais desse ecossistema regional, portanto, como conseqüência desse levantamento e uso de Sistemas de Informação Geográfica todas as plantas descritas a seguir estão georeferenciadas e seus dados armazenados em um Banco de Dados preparado para esse fim. Seu desenvolvimento foi feito com o Software Windows Access que pode estar ligado com outros softwares, por exemplo: o AutoCad Map 2004, valendo citar que o Banco de Dados é mostrado a seguir:         

IMAGENS E DESCRIÇÕES DAS PLANTAS DO RIO DA CABEÇA ARMAZENADAS NO BANCO DE DADOS

DISCUSSÃO

Com esse trabalho de levantamento bioecológico e geográfico, abrem-se as discussões sobre as situações em que se encontram as margens do Rio da Cabeça, que demonstram a existência de sérios problemas com relação à conservação e ação de atividades antrópicas em toda a sua extensão.
Portanto, é mais um diagnóstico das situações pelas quais passa esse local, assim como todos os rios da Bacia Hidrográfica do Corumbataí.
Outro ponto importante nessa abrangência são as utilidades impares possíveis das Geotecnologias, considerando suas formas informacionais de geração, armazenamento e relacionamento dos dados de natureza ambiental. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com essa pesquisa de campo realizada nas margens do Rio da Cabeça, pretendeu-se mostrar que muitas atividades agropastoris, já prejudicaram e ainda prejudicam a vegetação ciliar e conseqüentemente a flora epifítica que ali está acondicionada. Segundo esse levantamento essas plantas específicas estão distribuídas em uma pequena extensão e os locais apresentam características de ambiente sadio, porém pressionados pelas lavouras e pastagens.
Com a ajuda do banco de dados que foi criado para esse levantamento espera-se conseguir mostrar para o meio acadêmico as possibilidades de pesquisa nessa área em vários campos do conhecimento, ou seja, Biologia, Geografia, Ecologia e Educação Ambiental que conjuntamente podem exigir ações e mostrar para a sociedade local a importância de preservação e conservação desses ecossistemas às margens do Rio da Cabeça.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENZING, DAVID.H. Vascular Epiphytes, Cambridge University Press. 1990

CENTRO DE ESTUDOS E PLANEJAMENTO AMBIENTAL - CEAPLA, Mapas da Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí, SP, Rio Claro: UNESP.

FLORA BRASILIENSIS. Karl Friedrich Philipp von Martius, 1829.

PROJETO ORCHIDSTUDIUM. http://www.orchidstudium.com/

RODRIGUES, R. R.; LEITÃO FILHO, H. de F. (Ed.). Matas Ciliares: Conservação e Recuperação. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; FAPESP, 2000.

TROPPMAIR, H. Biogeografia e Meio Ambiente / Helmut Troppmair 8ª edição-Rio Claro: Divisa, 2008; 227p.

ZAMPIN, I. C. Fotos do Rio da Cabeça em dias atuais, 2006/2007/2008.

ZAMPIN, I. C.; LOMBARDO, M. A.; PAGANI, M. I.: A importância da conservação das matas ciliares para a existência da flora vascular epifítica na bacia hidrográfica do Rio Corumbataí. In: VII Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP – Campus Rio Claro : 27 a 30 de Novembro de 2007.

ZAMPIN, I. C.; LOMBARDO, M. A.; OLIVEIRA, F. B.; Análise Preliminar da Influência dos Componentes do Solo Hidromórfico na Existência da Flora Vascular Epifítica em Espaços Geográficos Distintos. In: IV Simpósio de Ensino de Solos. ESALQ / USP, Piracicaba, São Paulo: 15 a 17 de maio de 2008.